Algo que particularmente me interessa no mundo da heráldica são os sistemas de diferenciação. Em geral, tais sistemas são usados por herdeiros de brasões de armas em relação ao primeiro portador. Ou ainda, fazem uma alusão à posição de quem porta o brasão na linha de sucessão em dinastias principescas. Também podem mostrar a posição na ordem de nascimento de uma série de irmãos, condições de nascimento, tais como a bastardia, etc. Os sistemas mais comuns são, sem dúvidas, o inglês, o escocês, o português e o "canadense". Digo o "canadense", porque o sistema canadense é o mesmo que o inglês com a diferenciação de sexo, basicamente. Outra constatação é que os mais usados são o escocês e inglês. Sendo o inglês, inclusive o mais popular. O mais impopular é também o português, devido a dificuldade de interpretação e o problema histórico, pois foi adotado erroneamente muitas vezes. Dito isto, apresentamos os sistemas com alguns exemplos: 1. O sistema inglês: Este é o mais popular pela sua simplicidade e beleza das figuras. Acredita-se que o sistema possa ter sido baseado no sistema português de Bricas, quando Roger Machado servia no College of Arms. O sistema consiste, basicamente em diferenciar a ordem nascimento dos filhos e sua posição em uma linha sucessória. Logo, o filho primogênito, enquanto vive o pai, usa um lambel, o segundo filho um crescente, o terceiro uma estrela e assim por diante. Este é o princípio básico. 2. O sistema escocês: No escocês, se usam as figuras do sistema inglês, no entanto, também se diferenciam os ramos genealógicos e a bastardia através da bordadura do escudo. Assim, se pode rastrear a posição do armigerado na árvore genealógica do primeiro portador do brasão, através das cores da bordadura, seu formato e também porque esta pode ser particionada para indicar um ramo genealógico de um outro ramo. 3. O sistema canadense: É o sistema inglês, só que para mulheres as figuras são mudadas para diferenciá-las. 4. O sistema português, as bricas. Eu já abordei este tema em um outro artigo. Mesmo assim, o sistema de bricas faz uma diferenciação até a quarta geração do primeiro armigerado.(1) Abaixo, indexei um gráfico que mostra figuras e formas de aplicação do sistema escocês para melhor entendimento. No mais, recomendo ao leitor uma pesquisa mais aprofundada caso queira fazer uso destes sistemas, eles são bem mais complexos do que apresento aqui e merecem uma abordagem mais detida para uso. (1)-Eduardo De Castro. "Heráldica Portuguesa: Sistema de Diferenciação Pessoal, Bricas." http://eduardodecastro.weebly.com/blog/heraldica-portuguesa-sistema-de-diferenciacao-pessoal-bricas
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Durante a Baixa Idade Média e o início da Era Moderna a cavalaria, a nobreza e a fidalguia viviam uma época de grande florescimento. Justas, grandes feitos pelas nações e principados, livros iluminados, poemas épicos, obras de arte etc. Durante esta época, viver entre estes estamentos era um ritual de conduta, as danças tinham passos bem definidos, as canções tinham esmero de contar historietas, obras de música clássica tinham seu princípio, comer, rezar, trabalhar, conversar, andar à rua e apresentar-se. Tudo tinha um ritual. Na verdade tudo seguia um modelo ideal. Não seria diferente com a nobiliarquia. No âmbito da cavalaria o modelo ideal do cavaleiro, nobre e fidalgo eram Os Nove da Fama. Cada um deles representava também uma qualidade excepcional que os tornava modelo de cavaleiro, sendo todos eles bem nascidos em seus países e culturas diferentes. No entanto, alguns são de origem histórica duvidosa, como o Rei Arthur e Heitor, mas sem dúvida representados com as características de valores nobres proveniente de romances de cavalaria como a Henriqueida, A Canção de Rolando e a belíssima História de Bernardo e Heloise. Acredita-se que os nove da fama tenham sido nomeados pela primeira vez em 1312 como Les Neuf Preux (Os Nove Valente ou das Proezas), em Itália, são chamados os Nove Prodi, já em Inglaterra de Nine Worthies, por fim na Península Ibéria, Os Nove da Fama. E na heráldica, aparecem em várias obras. No caso da belíssima heráldica Portuguesa, os Nove da fama são representados com belas iluminuras em o Tesouro da Nobreza e Perfeição das Armas, assim como no Livro do Armeiro-mor de Juan de Cros. Abaixo algumas imagens comentadas sobre Os Nove da Fama da última obra citada. Os nove da fama eram um grupo de personagens históricos divididos em trios (ou tríades), que representavam os valores da cavalaria. Podemos dividi-los e nomeá-los como segue: OS GENTIOS (PAGÃOS): HEITOR DE TRÓIA: foi príncipe de Tróia, filho de Príamo e irmão de Páris. Heitor é um dos heróis da Ilíada de Homero. Representava o guerreiro que luta por seu país, pois seu combate sempre em motivado pelo bem de Tróia de acordo com a obra Homérica. Heitor foi morto por Aquiles em combate, depois de ter matado por engano um primo de Aquiles. ALEXANDRE MAGNO: Rei da Macedônia, grande conquistador do mundo antigo. Seu império ia da região dos Balcãs até a Índia atual. JÚLIO CÉSAR: Foi um patrício, general e político romano. Alcançando, inclusive o título de Imperador. César. Conquistou a Gália, Venceu a Guerra Civil. Foi historiador e escritor, escreveu comentários sobre sua campanha na Gália, por exemplo. Legou o Império Romano à Caio Augusto, seu sobrinho. OS TRÊS HEBREUS: JUDAS MACABEU: Foi filho do sacerdote judeu Matatias que recusou a anexação do povo hebreu ao Império Selêucida. Judas Macabeu venceu a resistência e reconquistou Jerusalém, recebendo o apelido de "Macabeu" (Martelo) por sua bravura e ímpeto em combate. REI DAVID: Foi o rei eleito por Deus para substituir o Rei Saul que estava em estado de pecado contra Ele. O rei David matou O Gigante Golias dos Filisteus com uma funda ainda na tenra idade. O Rei David foi responsável pela sedentarização do reino Israelita, também conquistando Jerusalém posteriormente. Foi o pai de Salomão, o rei israelita sábio que construiu O Tempo de Salomão. JOSUÉ: Foi um general combatente israelita. Combateu os malaquitas e por meio da fé e da oração parou o sol no céu no dia em que derrotou os Amorreus. OS CRISTÃOS:
O REI ARTHUR: maior senhor dos Cavaleiros da Távola Redonda, Rei de Camelot. Casado com Lady Guinevere foi o rei que teve a pureza no coração necessária para retirar Excalibur, a espada, da pedra em que estava fincada. CARLOS MAGNO: Foi Rei da França e Alemanha, também do Sacro Império Romano Germânico. Pelo seu governo e campanhas ajudou a definir o que hoje seria a Europa Ocidental. Foi também o fundador da dinastia carolíngia. GODOFREDO DE BULHÃO: foi um dos primeiros líderes da primeira cruzada, foi e é sem dúvida a representação da defesa da Fé Católica e da humildade diante de Cristo. Recusou ser coroado Rei de Jerusalém na mesma cidade em que Cristo recebeu uma coroa de espinhos. Em recente artigo sobre filiação ilegítima, o Barão de São João Marcos, Felipe de Vasconcelos, nos advertiu que em Portugal os filhos adotados já possuíam legislação própria, mesmo antes do Reino Unido. De fato, possuía. No entanto sem distinção heráldica como havíamos presumido. Sendo assim, a legislação nobiliária que existe e a falta de distinção heráldica são positivas, pois assumem que os adotados recebem os títulos e honrarias de seus pais de forma plena, segundo o tratado, “Privilégios da Nobreza e Fidalguia de Portugal”, mas nas “Ordenações Filipinas” não há abordagem detida sobre o assunto. Concluiu-se que a determinação de tornar adotados e legítimos idênticos em direitos foi uma conquista moderna e/ou contemporânea. Mesmo assim, no direito nobiliário e heráldica, Portugal mostra-se adiantado (1). No que tange os filhos ilegítimos, os filhos espúrios principalmente, são excluídos por completo da nobreza. Em algumas exceções. A primeira delas é para mulheres filhas bastardas, estas quando se casavam com alguém da nobreza, passavam à ser filhas legítimas, curiosamente (2). Também é bem sabido que estes bastardos não eram esquecidos por completo, assim como ocorreu em Brasil (3), era costume também em Portugal que os filhos bastardos recebessem atenção dos pais que lhe conferiam cargos e honras. Se sabe que dos 32 reis de Portugal, 26 deixaram descendentes e destes últimos apenas dois não geraram filhos bastardos. Tendo estes filhos ocupado cargos como Arcebispo de Braga, Mordomo-Mor do Reino, Capitão na Conquista de Ceuta e até mesmo o próprio rei no caso de D. João I, mestre de Avis, “o de boa memória”. O principal conjunto de leis que vigorou durante o Reinado em Portugal foram, sem dúvidas, as “Ordenações Filipinas”. Nestas os filhos ilegítimos eram basicamente divididos em: Filhos espúrios, que por sua vez se subdividiam em: a. Filhos adulterinos: quando o pai era casado sem possibilidade de casar-se com a mãe da criança, ou o caso contrário, quando a mãe era casada sem possibilidade de casar-se com o pai da criança. b. Filhos incestuosos: proveniente de relações entre irmãos, sobrinhos e tios, pais e filhos etc. c. Filhos sacrílegos: filhos de padres e demais membros do clero que eram celibatados. Filhos Naturais: aqueles que foram concebidos por pais não casados, isto é que se encontravam em situação de concubinato, sem impedimento de união formal na Igreja Católica. Entre estes, somente os naturais tinham a possibilidade de legitimação com facilidade para gozarem da nobreza e fidalguia dos pais. Bastava que os pais contraíssem núpcias. Os adulterinos somente após uma reviravolta do destino vislumbravam a legitimidade, isto é, do pai ou mãe da criança tornar-se viúvo e contrair núpcias com o outro genitor da criança. Noutro apontamento, se os pais dos filhos adulterinos puderem casar-se após nulidade de seus antigos matrimônios pela Igreja Católica. Seja como for, pelas “Ordenações Filipinas”, aos filhos ilegítimos fica retido o uso do pronome de tratamento de “Dom”, mesmo se legitimados depois. Ainda assim, estes poderiam, após legitimados ou perfilhados, serem herdeiros das posses do pai ou da mãe quando eram declarados como preferidos em testamento. No âmbito da fidalguia, não deixavam de sê-lo, mas carregavam em suas armas (quando provenientes de famílias fidalgas de cota d’armas) uma quebra para diferenciá-los. A quebra constituía uma linha de sable em contrabanda no escudo, chamado de cotica ou filete (3) e (4). Este tema continua à me incomodar. Ainda acredito que mesmo os filhos bastardos tenham direito à filiação ao pai sem distinção, gozando dos direitos herança e posses de forma igual aos legítimos, inclusive na sucessão. Sendo o adultério pecado do genitor, não do gerado. Acredito também que os filhos nasçam sem pecado, nem mesmo o original e por isso recebem o batismo sem a necessidade de renunciar ao mal antes da concretização do sacramento. (1) e (2) - Luiz da Silva Pereira de Oliveira. “Privilégios da Nobreza e Fidalguia de Portugal”. 1806. Lisboa. (3) - Eduardo D’Castro. “Heráldica e Direito Nobiliário: Filiação Ilegítima, bastardos.” Disponível neste blog, clicando aqui. (4) - Cândido Mendes, Mária Júlio Brito de Almeida Costa. “Ordenações Filipinas, vol.2”. Recentemente com as comemorações dos 150 anos de Campina Grande, novamente foi trazido à tona, mais uma vez, quem realmente foi o Capitão-Mor do rio Piranhas, Cariris e Piancós, herói da Guerra dos Bárbaros, nobre português e também Capitão-Mor das milícias de infantaria de ordenanças que executava missões de expansão territorial da colônia portuguesa para criação de gados para a Fazenda Real e manutenção da economia da cana-de-açúcar no litoral. Enquanto Capitão-mor Teodósio de Oliveira Lêdo foi fundador de várias fazendas e vilas que mais tarde vieram à transformar-se em cidades sedes de municípios, entre eles Campina Grande, Pombal e Olivedos, para citar alguns. Uma vez introduzido quais foram as atividades, atribuições e honras de Teodósio, deve-se esclarecer alguns argumentos criados por alguns historiadores residentes em Campina Grande, mas que fazem muito mais a disseminação de um discurso que divide os residentes da cidade e interessados na história, do que história propriamente dita, levando também em consideração muito mais o materialismo histórico e uma luta de classes que é totalmente inaplicável no cenário do Cariri Paraibano de 1600-1800. Quando na verdade deveríamos realizar uma história que agregasse o maior número de grupos da comunidade campinense em torno de uma identidade comum(1). Primeiramente é preciso dizer que os fascículos sobre história de Campina Grande publicados no Jornal Da Paraíba são muito úteis para o conhecimento de locais, nomes e datas sobre a história de Campina Grande. Todavia, é preciso frisar que muitos artigos ali vinculados tem caráter que diz respeito à História Social e que distorcem a realidade e desenham personalidades inexistentes para justificar um projeto de agravação da luta de classes. No fascículo 2, intitulado de “A cidade e seus primórdios” trás uma representação de Teodósio de Oliveira Lêdo. A representação, embora já antiga e disponível no Museu Histórico de Campina Grande, foi repintada para transmitir uma imagem europeizada do capitão-mor. Gostaria de frisar que no livro “Os Oliveira Lêdo”, Antônio Pereira de Almeida e Agassiz de Almeida, seu filho, levantam a hipótese de os Oliveira Lêdo serem provenientes da união das famílias de Bartolomeu Lêdo e Manuel de Oliveira que se casaram com mamelucas e índias, dando origem a uma linhagem de mamelucos que serviram no morgado de Cabo de Santo Agostinho e de lá para o restante dos sertões brasileiros. Portanto, um Teodósio e Oliveira Lêdo de olhos azuis é uma imagem errônea que propagada a imagem de um colonizador europeu no Cariri, sendo este conceito também passível de relativização, pois o Capitão-mor nasceu em terras brasilis. Primeiramente é preciso relativizar na história a colônia do Brasil o que era um “português”. Na época até 1808 o Brasil foi colônia de Portugal. Todavia nesta terra distante, muitos adotavam costumes contraditórios com o que se vivia nas cortes, tamanho foi o choque entre a corte de Dom João VI e os cariocas quando da chegada de El Rey ao Brasil. Desta forma, matrimônios entre indígenas e portugueses que aqui chegavam eram comuns, assim como o uso de adornos indígenas, seus remédios, culinária, etc. pelos portugueses nascidos no Brasil. Fatos tais que renderam à Bartolomeu Lêdo, provável ancestral de Teodósio, um inquérito do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição(2), juntamente com sua esposa a mameluca Anna Lins que safaram-se graças à delação das práticas judaicas de Branca Dias e suas filhas. Sendo assim, desde os primeiros colonos que aqui chegaram, e nos primeiros descendentes que aqui geraram, é muito provável que o sentimento de pertença à Portugal fosse algo muito mais burocrático, hierárquico e simbólico do que uma identificação cultural e de tradição, isto é, de mesmas práticas e costumes. Sendo assim, Teodósio de Oliveira Lêdo teria sido muito mais um habitante do cariri, pele morena queimada pelo sol, trejeitos, costumes e palavras locais que mais tarde viriam à fazer parte do Brasil do que um perfil europeu por excelência. Para ressaltar este aspecto, vale relembrar o caso de Pascoal de Oliveira Lêdo, foragido da família de uma jovem de boa estirpe, provavelmente da Casa da Torre de Garcia D'Ávila, o qual fugira com a jovem atravessando o Rio São Francisco e vindo abrigar-se onde hoje é Boqueirão, dado que a família desaprovava o relacionamento por este Oliveira Lêdo ser "caboclo". Teodósio fora privilegiado nobre de Portugal, mas sua nobreza veio pelas ações de sua família e seus feitos de grandeza que permitiram que hoje a Serra da Borborema, o Cariri e os Piancós sejam habitát natural de brasileiros como ele, na cor da pele, nos trejeitos, costumes e palavras. De maneira jocosa, poderíamos dizer sobre Teodósio já comia tapioca invés de pastéis de Belém. Não foi cavaleiro da Ordem de Cristo, mas não estava muito distante de Henrique Dias e Felipe Camarão, negro e índio, respectivamente, porém enobrecidos pela Coroa do Reino de Portugal e Algarves. Quanto a sua fama de combatente dos indígenas esta é verdade, mas não se deve tomar conclusões precipitadas sobre esta luta. A Guerra dos Bárbaros constituiu um grande desentendimento entre as famílias que haviam se assentado como colonos e os índios Janduís, que haviam sido aliados dos holandeses já expulsos do Brasil à esta altura. Assim, os índios haviam invadido vilas, incendiado e matado famílias, espalhando verdadeiro terror pelo Cariri, Piancó e Açu, pois já em 1687, início dos ataques dos índios, “...no sertão do Açú já haviam mortos perto de cem pessoas, destruindo gados e depredando as lavouras dos colonos”. Sendo que o Governador Geral da Capitania e Pernambuco só interveio em 1688. (2) Foi nesta Guerra, ao que aparenta, faleceu em combate o Capitão-Mor Constantino de Oliveiro Lêdo, irmão de Teodósio de Oliveira Lêdo de quem herdou o título de Capitão-Mor do rio Piranhas, Cariris e Piancós. Descreve-nos ainda o Visconde De Taunay sobre a peleja de Constantino de Oliveira Lêdo: “Ao chefe paulista que se fortificara pediram instantes socorros, Antonio de Albuquerque e o capitão-mor Constantino de Oliveira Ledo ‘vendo se bem apertados do inimigo e com grande risco seu’. Estava o primeiro aliás ferido de arma de fogo”. (3) Constata-se assim, que não somente a colonização dos sertões paraibanos foi difícil pela resistência indígena, como as tribos Janduís possuíam armamento de fogo, arcabuzes, cedidos pelos Holandeses, do contrário, a vantagem portuguesa seria evidente, fazendo com que a guerra fosse um genocídio de índios docilizados, como a história socialista queira fazer pensar, e não uma guerra de conquista entre tiros de Arcabuzes e golpes de espada, flechas, zarabatanas e lanças, as quais duraram três dias e três noites recuando de Alagoas ao arraial do Piranhas. A próxima menção de um Oliveira Lêdo na obra de Taunay são os pedidos de espólios de guerras na forma de concessões de terras, escritas por Fernão Martins Mascarenhas de Lencastro, governador da Capitania de Pernambuco à D. Pedro II de Portugal. Escreve: “Ultimamente torno a encarregar a V.M. me dê muito larga conta de tudo, e dos cabos e soldados, e officiaes brancos e índios com que V.M. se acha de presente e em que lugar tem feito Arraial e forma, em que tem disposto a defença actual da Capitania, e há de dispor a guerra ofensiva dos Bárbaros não se querendo eles sujeitar a paz que Sua Magestade deseja. E para esta lhes prometerá V.M. todas as terras que pedirem e elegerem de sua habitação e de suas famílias e que serão conservados na proteção de Sua Magestade e o bom sucesso que espero tenha V.M. em tudo”. (3) Fica evidente que os Oliveira Lêdo não só combatiam em nome do Rei, mas em nome do povoamento, de um povo seu que mais tarde seriam os habitantes de Campina Grande, Piancó, Olivedos, Pombal, entre outros. Em seguida, à respeito da eficácia militar e do perigo que o Capitão-Mor Teodósio de Oliveira-Lêdo enfrentara, o Governador Geral escreve ao Governador de Pernambuco o seguinte: “O socorro que há de mandar de pólvora para a guerra do Piancó. Reservo a resposta de vossa carta de outubro deste ano, para um barco que fica de partida em direitura a esse Recife a creio chegar primeiro a vossa mão que esta, a qual serve só de vos dizer que o Capitão-Mor das Piranhas, Teodósio de Oliveira Lêdo, teve um bom sucesso com os bárbaros daqueles sertões, sem mais valor e gente que pôde ajudar.” (2) Escreve mais tarde o Governador Geral ao Governador do Rio Grande, Bernardo Vieira de Melo sobre o sucesso de Teodósio, posteriormente também dá os parabéns ao próprio Capitão-Mor, dizendo: “Dou a Vossa Mercê o parabém do bom sucesso que teve com os bárbaros; nem eu podia esperar menos da opinião que tenho do seu valor”. Teodósio de Oliveira Lêdo vai ainda até o Governador da Paraíba dizer pessoalmente que os sertões encontravam-se despovoados pelos ataques dos Cariris e Janduís, dada a expulsão dos habitantes pelos índios ex-aliados dos holandeses, sendo necessário o repovoamento com gado e currais e que se colocasse ali colonos com algum armamento para defender-se. Finalmente o capitão retorna à batalha, levando consigo sua tropa de índios Ariús. Quanto às circunstâncias nas quais viviam os Oliveira Lêdo é preciso frisar que existiam aqui muitos índios, possuidores de armas e fogo, espadas e alabardas. Não se deve precisar que os índios da Serra da Borborema e do Cariri fossem docilizados, incultos nas artes da guerra ou primitivos na inteligência, são transcritas ainda as palavras de Constantino de Oliveira Lêdo, antes de sua morte, falando que uma das tribos prometera-lhe auxílio contra outras tribos se os ajudasse com os paulistas. Taunay diz “O que pretendia porém era introduzir-se perfidamente no arraial branco ‘para lhes darem de dentro’. E isto succederia ‘se não prevíssemos a velhacaria. E como não poderam fazer a sua deram de fugida e foram ao Pinhancô e lá mataram 26 homens que alli prezediam, que como delles estevessem longe lhes parecia que estavam seguros’(3). Diz ainda, Constantino de Oliveira Lêdo: “Estas são as pazes que estes Innocentes costumam fazer que são tão ardilosos que confundem aos Paulistas que basta para o encarecimento e só temos... farão pazes com qualquer navio estrangeiro que vier aquella costa pois tanto suspiram pelos hollandezes, e é certo se qualquer inimigo lhes desse armas de fogo, só eles bastavam para nos consquistarem por terra pois são tantos como as folhas, e no valor não lhes excedemos mais que na desigualdade das armas”.(3) Este tipo de adversidade também enfrentou o Capitão-Mor Teodósio de Oliveira Lêdo depois da morte de seu irmão Constantino nas mãos dos índios tapuias. É duvidosa a conclusão de historiadores que dizem que Wilson Seixas fez uma “denúncia” sobre o Teodósio de Oliveira Lêdo. Wilson Seixas que escreveu “O Velho Arraial de Piranhas” e deve-se citar que esta obra serviu também de fonte à Antônio Pereira de Almeida, descendente de Teodósio de Oliveira Ledo. Além disso, o tom de conspiração que é dado de nada mais se trata do que perfídia. Seguramente, também se pode dizer que o nobre português contou com a ajuda do leal Índio Cavalcante, já abordado por mim em outro artigo (5). Tendo sido este seu aliado na Guerra dos Bárbaros e componente do seu terço de ordenanças. Mais uma vez, Teodósio se aproxima mais do indígena e se afasta mais e mais da figura pintada pela história tradicionalmente errada da cidade de Campina Grande. Seguem novas congratulações para o nobre português. “O Capitão-mor das Piranhas Theodosio de Oliveira Ledo me deu conta dos bons sucessos que tivera com os Bárbaros que o vieram buscar para contrahir uma paz simulada para serem traidores quando se oferecesse ocasião de o poderem ser, e com poder dos Bárbaros, que a esse fim vieram, e ele os foi buscar com a pouca força, que pôde ajuntar no breve tempo que lhe deram.” (3) Escreveu em 30 de junho de 1696, alarmado, o Governador Geral, ao capitão-mor da Paraíba Manuel Nunes Leitão, justificando assim o provável episódio ocorrido e transcrito a partir da carta de Manoel Soares Albergaria de 1697. Sendo assim, o conteúdo da carta pode ser relativizado também. Pode-se dizer, basicamente, que a Carta de Manoel Soares Albergaria consiste em um relato sobre um adversário político, assim como acontece ainda hoje no estado da Paraíba. Dado o sucesso e prestígio alcançado por Teodósio de Oliveira Lêdo entre membros do governo, o Governador da Capitania de Pernambuco, mas também entre o Governador Geral do Brasil e provavelmente seus feitos tendo chegado à Vossa Majestade D. Pedro II De Portugal, logo era muito provável que o Capitão-Mor do interior, isto é do sertão, recebesse uma comenda da Ordem de Cristo antes do Capitão-Mor do Litoral, onde se plantava cana-de-açúcar, estavam a maioria dos senhores de engenho e toda dinâmica dos fidalgos de alta estirpe. Daí, pela análise destas relações de força, temos a conclusão que as acusações feitas à Teodósio de Oliveira Lêdo por atuais militantes da história social são infundadas. Conclui-se que os artigos e historiadores que querem afirmar a má conduta de Teodósio de Oliveira Lêdo, não levam em conta nenhum exercício de alteridade, não fazem uma análise destituída de conceitos da contemporaneidade. Querendo julgar o Capitão-Mor pelas leis atuais, não respeitando a diferença temporal entre nós e ele, muito menos a diferença cultural entre os colonos da Paraíba e os atuais paraibanos. Só posso concluir que a história que é escrita e que tenta denegrir não somente à Teodósio de Oliveira Lêdo, herói da libertação da Paraíba para os colonos que fundaram as atuais cidades que vivemos, mas denigre também a memória de seus descendentes e admiradores, entre eles Irineu Joffily, Wilson Seixas, Elpídio de Almeida, Antônio Pereira de Almeida, Félix Araújo, para citar poucos. O legado os Oliveira Lêdo também foi deixado de lado. Antônio de Oliveira Lêdo, primeiro habitante, catequizador dos índios que trouxe para cá padres para realizar batismos, criador de gados, fundador de Boqueirão. Constantino de Olivera Ledo, capitão-mor, herói da Guerra dos Bárbaros, falecido em combate, Pascácio de Oliveira Lêdo, fundador de Cabaceiras com Capitão Domingos de Faria Castro. Os Oliveira Lêdo foram e são responsáveis pelo crescimento e fortalecimento do que são muitas cidades paraibanas hoje. À estes se deve admiração e respeito, tanto por parte dos seus descendentes como dos que sentam em cátedras da academia de História deste estado. (1) –Estes conceitos serão discutidos posteriormente e explicados porque estão errados e são contra todas as instituições existentes, inclusive a história propriamente dita. (2) –Antônio Pereira de Almeida. “Os Oliveira Lêdo – De Teodósio de Oliveira Lêdo à Agassiz Pereira de Almeida” vol. 1. (3) – Afonso D’Estragnolle Taunay. “A Guerra dos Bárbaros”. Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria. (4) –Juciene Ricarte Apolinário e Josemir Camilo. “A cidade e seus primórdios”. Campina Grande 150 anos à Frente. Jornal da Paraíba. Fascículo 2. (5) – Eduardo D’Castro. “Notas sobre a família Cavalcanti da Paraíba e sua origem”. Publicado no blog Eduardo De Castro. www.eduardodecastro.weebly.com acessado em 28/12/2014 às 18h:36min. |
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