Recentemente com as comemorações dos 150 anos de Campina Grande, novamente foi trazido à tona, mais uma vez, quem realmente foi o Capitão-Mor do rio Piranhas, Cariris e Piancós, herói da Guerra dos Bárbaros, nobre português e também Capitão-Mor das milícias de infantaria de ordenanças que executava missões de expansão territorial da colônia portuguesa para criação de gados para a Fazenda Real e manutenção da economia da cana-de-açúcar no litoral. Enquanto Capitão-mor Teodósio de Oliveira Lêdo foi fundador de várias fazendas e vilas que mais tarde vieram à transformar-se em cidades sedes de municípios, entre eles Campina Grande, Pombal e Olivedos, para citar alguns. Uma vez introduzido quais foram as atividades, atribuições e honras de Teodósio, deve-se esclarecer alguns argumentos criados por alguns historiadores residentes em Campina Grande, mas que fazem muito mais a disseminação de um discurso que divide os residentes da cidade e interessados na história, do que história propriamente dita, levando também em consideração muito mais o materialismo histórico e uma luta de classes que é totalmente inaplicável no cenário do Cariri Paraibano de 1600-1800. Quando na verdade deveríamos realizar uma história que agregasse o maior número de grupos da comunidade campinense em torno de uma identidade comum(1). Primeiramente é preciso dizer que os fascículos sobre história de Campina Grande publicados no Jornal Da Paraíba são muito úteis para o conhecimento de locais, nomes e datas sobre a história de Campina Grande. Todavia, é preciso frisar que muitos artigos ali vinculados tem caráter que diz respeito à História Social e que distorcem a realidade e desenham personalidades inexistentes para justificar um projeto de agravação da luta de classes. No fascículo 2, intitulado de “A cidade e seus primórdios” trás uma representação de Teodósio de Oliveira Lêdo. A representação, embora já antiga e disponível no Museu Histórico de Campina Grande, foi repintada para transmitir uma imagem europeizada do capitão-mor. Gostaria de frisar que no livro “Os Oliveira Lêdo”, Antônio Pereira de Almeida e Agassiz de Almeida, seu filho, levantam a hipótese de os Oliveira Lêdo serem provenientes da união das famílias de Bartolomeu Lêdo e Manuel de Oliveira que se casaram com mamelucas e índias, dando origem a uma linhagem de mamelucos que serviram no morgado de Cabo de Santo Agostinho e de lá para o restante dos sertões brasileiros. Portanto, um Teodósio e Oliveira Lêdo de olhos azuis é uma imagem errônea que propagada a imagem de um colonizador europeu no Cariri, sendo este conceito também passível de relativização, pois o Capitão-mor nasceu em terras brasilis. Primeiramente é preciso relativizar na história a colônia do Brasil o que era um “português”. Na época até 1808 o Brasil foi colônia de Portugal. Todavia nesta terra distante, muitos adotavam costumes contraditórios com o que se vivia nas cortes, tamanho foi o choque entre a corte de Dom João VI e os cariocas quando da chegada de El Rey ao Brasil. Desta forma, matrimônios entre indígenas e portugueses que aqui chegavam eram comuns, assim como o uso de adornos indígenas, seus remédios, culinária, etc. pelos portugueses nascidos no Brasil. Fatos tais que renderam à Bartolomeu Lêdo, provável ancestral de Teodósio, um inquérito do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição(2), juntamente com sua esposa a mameluca Anna Lins que safaram-se graças à delação das práticas judaicas de Branca Dias e suas filhas. Sendo assim, desde os primeiros colonos que aqui chegaram, e nos primeiros descendentes que aqui geraram, é muito provável que o sentimento de pertença à Portugal fosse algo muito mais burocrático, hierárquico e simbólico do que uma identificação cultural e de tradição, isto é, de mesmas práticas e costumes. Sendo assim, Teodósio de Oliveira Lêdo teria sido muito mais um habitante do cariri, pele morena queimada pelo sol, trejeitos, costumes e palavras locais que mais tarde viriam à fazer parte do Brasil do que um perfil europeu por excelência. Para ressaltar este aspecto, vale relembrar o caso de Pascoal de Oliveira Lêdo, foragido da família de uma jovem de boa estirpe, provavelmente da Casa da Torre de Garcia D'Ávila, o qual fugira com a jovem atravessando o Rio São Francisco e vindo abrigar-se onde hoje é Boqueirão, dado que a família desaprovava o relacionamento por este Oliveira Lêdo ser "caboclo". Teodósio fora privilegiado nobre de Portugal, mas sua nobreza veio pelas ações de sua família e seus feitos de grandeza que permitiram que hoje a Serra da Borborema, o Cariri e os Piancós sejam habitát natural de brasileiros como ele, na cor da pele, nos trejeitos, costumes e palavras. De maneira jocosa, poderíamos dizer sobre Teodósio já comia tapioca invés de pastéis de Belém. Não foi cavaleiro da Ordem de Cristo, mas não estava muito distante de Henrique Dias e Felipe Camarão, negro e índio, respectivamente, porém enobrecidos pela Coroa do Reino de Portugal e Algarves. Quanto a sua fama de combatente dos indígenas esta é verdade, mas não se deve tomar conclusões precipitadas sobre esta luta. A Guerra dos Bárbaros constituiu um grande desentendimento entre as famílias que haviam se assentado como colonos e os índios Janduís, que haviam sido aliados dos holandeses já expulsos do Brasil à esta altura. Assim, os índios haviam invadido vilas, incendiado e matado famílias, espalhando verdadeiro terror pelo Cariri, Piancó e Açu, pois já em 1687, início dos ataques dos índios, “...no sertão do Açú já haviam mortos perto de cem pessoas, destruindo gados e depredando as lavouras dos colonos”. Sendo que o Governador Geral da Capitania e Pernambuco só interveio em 1688. (2) Foi nesta Guerra, ao que aparenta, faleceu em combate o Capitão-Mor Constantino de Oliveiro Lêdo, irmão de Teodósio de Oliveira Lêdo de quem herdou o título de Capitão-Mor do rio Piranhas, Cariris e Piancós. Descreve-nos ainda o Visconde De Taunay sobre a peleja de Constantino de Oliveira Lêdo: “Ao chefe paulista que se fortificara pediram instantes socorros, Antonio de Albuquerque e o capitão-mor Constantino de Oliveira Ledo ‘vendo se bem apertados do inimigo e com grande risco seu’. Estava o primeiro aliás ferido de arma de fogo”. (3) Constata-se assim, que não somente a colonização dos sertões paraibanos foi difícil pela resistência indígena, como as tribos Janduís possuíam armamento de fogo, arcabuzes, cedidos pelos Holandeses, do contrário, a vantagem portuguesa seria evidente, fazendo com que a guerra fosse um genocídio de índios docilizados, como a história socialista queira fazer pensar, e não uma guerra de conquista entre tiros de Arcabuzes e golpes de espada, flechas, zarabatanas e lanças, as quais duraram três dias e três noites recuando de Alagoas ao arraial do Piranhas. A próxima menção de um Oliveira Lêdo na obra de Taunay são os pedidos de espólios de guerras na forma de concessões de terras, escritas por Fernão Martins Mascarenhas de Lencastro, governador da Capitania de Pernambuco à D. Pedro II de Portugal. Escreve: “Ultimamente torno a encarregar a V.M. me dê muito larga conta de tudo, e dos cabos e soldados, e officiaes brancos e índios com que V.M. se acha de presente e em que lugar tem feito Arraial e forma, em que tem disposto a defença actual da Capitania, e há de dispor a guerra ofensiva dos Bárbaros não se querendo eles sujeitar a paz que Sua Magestade deseja. E para esta lhes prometerá V.M. todas as terras que pedirem e elegerem de sua habitação e de suas famílias e que serão conservados na proteção de Sua Magestade e o bom sucesso que espero tenha V.M. em tudo”. (3) Fica evidente que os Oliveira Lêdo não só combatiam em nome do Rei, mas em nome do povoamento, de um povo seu que mais tarde seriam os habitantes de Campina Grande, Piancó, Olivedos, Pombal, entre outros. Em seguida, à respeito da eficácia militar e do perigo que o Capitão-Mor Teodósio de Oliveira-Lêdo enfrentara, o Governador Geral escreve ao Governador de Pernambuco o seguinte: “O socorro que há de mandar de pólvora para a guerra do Piancó. Reservo a resposta de vossa carta de outubro deste ano, para um barco que fica de partida em direitura a esse Recife a creio chegar primeiro a vossa mão que esta, a qual serve só de vos dizer que o Capitão-Mor das Piranhas, Teodósio de Oliveira Lêdo, teve um bom sucesso com os bárbaros daqueles sertões, sem mais valor e gente que pôde ajudar.” (2) Escreve mais tarde o Governador Geral ao Governador do Rio Grande, Bernardo Vieira de Melo sobre o sucesso de Teodósio, posteriormente também dá os parabéns ao próprio Capitão-Mor, dizendo: “Dou a Vossa Mercê o parabém do bom sucesso que teve com os bárbaros; nem eu podia esperar menos da opinião que tenho do seu valor”. Teodósio de Oliveira Lêdo vai ainda até o Governador da Paraíba dizer pessoalmente que os sertões encontravam-se despovoados pelos ataques dos Cariris e Janduís, dada a expulsão dos habitantes pelos índios ex-aliados dos holandeses, sendo necessário o repovoamento com gado e currais e que se colocasse ali colonos com algum armamento para defender-se. Finalmente o capitão retorna à batalha, levando consigo sua tropa de índios Ariús. Quanto às circunstâncias nas quais viviam os Oliveira Lêdo é preciso frisar que existiam aqui muitos índios, possuidores de armas e fogo, espadas e alabardas. Não se deve precisar que os índios da Serra da Borborema e do Cariri fossem docilizados, incultos nas artes da guerra ou primitivos na inteligência, são transcritas ainda as palavras de Constantino de Oliveira Lêdo, antes de sua morte, falando que uma das tribos prometera-lhe auxílio contra outras tribos se os ajudasse com os paulistas. Taunay diz “O que pretendia porém era introduzir-se perfidamente no arraial branco ‘para lhes darem de dentro’. E isto succederia ‘se não prevíssemos a velhacaria. E como não poderam fazer a sua deram de fugida e foram ao Pinhancô e lá mataram 26 homens que alli prezediam, que como delles estevessem longe lhes parecia que estavam seguros’(3). Diz ainda, Constantino de Oliveira Lêdo: “Estas são as pazes que estes Innocentes costumam fazer que são tão ardilosos que confundem aos Paulistas que basta para o encarecimento e só temos... farão pazes com qualquer navio estrangeiro que vier aquella costa pois tanto suspiram pelos hollandezes, e é certo se qualquer inimigo lhes desse armas de fogo, só eles bastavam para nos consquistarem por terra pois são tantos como as folhas, e no valor não lhes excedemos mais que na desigualdade das armas”.(3) Este tipo de adversidade também enfrentou o Capitão-Mor Teodósio de Oliveira Lêdo depois da morte de seu irmão Constantino nas mãos dos índios tapuias. É duvidosa a conclusão de historiadores que dizem que Wilson Seixas fez uma “denúncia” sobre o Teodósio de Oliveira Lêdo. Wilson Seixas que escreveu “O Velho Arraial de Piranhas” e deve-se citar que esta obra serviu também de fonte à Antônio Pereira de Almeida, descendente de Teodósio de Oliveira Ledo. Além disso, o tom de conspiração que é dado de nada mais se trata do que perfídia. Seguramente, também se pode dizer que o nobre português contou com a ajuda do leal Índio Cavalcante, já abordado por mim em outro artigo (5). Tendo sido este seu aliado na Guerra dos Bárbaros e componente do seu terço de ordenanças. Mais uma vez, Teodósio se aproxima mais do indígena e se afasta mais e mais da figura pintada pela história tradicionalmente errada da cidade de Campina Grande. Seguem novas congratulações para o nobre português. “O Capitão-mor das Piranhas Theodosio de Oliveira Ledo me deu conta dos bons sucessos que tivera com os Bárbaros que o vieram buscar para contrahir uma paz simulada para serem traidores quando se oferecesse ocasião de o poderem ser, e com poder dos Bárbaros, que a esse fim vieram, e ele os foi buscar com a pouca força, que pôde ajuntar no breve tempo que lhe deram.” (3) Escreveu em 30 de junho de 1696, alarmado, o Governador Geral, ao capitão-mor da Paraíba Manuel Nunes Leitão, justificando assim o provável episódio ocorrido e transcrito a partir da carta de Manoel Soares Albergaria de 1697. Sendo assim, o conteúdo da carta pode ser relativizado também. Pode-se dizer, basicamente, que a Carta de Manoel Soares Albergaria consiste em um relato sobre um adversário político, assim como acontece ainda hoje no estado da Paraíba. Dado o sucesso e prestígio alcançado por Teodósio de Oliveira Lêdo entre membros do governo, o Governador da Capitania de Pernambuco, mas também entre o Governador Geral do Brasil e provavelmente seus feitos tendo chegado à Vossa Majestade D. Pedro II De Portugal, logo era muito provável que o Capitão-Mor do interior, isto é do sertão, recebesse uma comenda da Ordem de Cristo antes do Capitão-Mor do Litoral, onde se plantava cana-de-açúcar, estavam a maioria dos senhores de engenho e toda dinâmica dos fidalgos de alta estirpe. Daí, pela análise destas relações de força, temos a conclusão que as acusações feitas à Teodósio de Oliveira Lêdo por atuais militantes da história social são infundadas. Conclui-se que os artigos e historiadores que querem afirmar a má conduta de Teodósio de Oliveira Lêdo, não levam em conta nenhum exercício de alteridade, não fazem uma análise destituída de conceitos da contemporaneidade. Querendo julgar o Capitão-Mor pelas leis atuais, não respeitando a diferença temporal entre nós e ele, muito menos a diferença cultural entre os colonos da Paraíba e os atuais paraibanos. Só posso concluir que a história que é escrita e que tenta denegrir não somente à Teodósio de Oliveira Lêdo, herói da libertação da Paraíba para os colonos que fundaram as atuais cidades que vivemos, mas denigre também a memória de seus descendentes e admiradores, entre eles Irineu Joffily, Wilson Seixas, Elpídio de Almeida, Antônio Pereira de Almeida, Félix Araújo, para citar poucos. O legado os Oliveira Lêdo também foi deixado de lado. Antônio de Oliveira Lêdo, primeiro habitante, catequizador dos índios que trouxe para cá padres para realizar batismos, criador de gados, fundador de Boqueirão. Constantino de Olivera Ledo, capitão-mor, herói da Guerra dos Bárbaros, falecido em combate, Pascácio de Oliveira Lêdo, fundador de Cabaceiras com Capitão Domingos de Faria Castro. Os Oliveira Lêdo foram e são responsáveis pelo crescimento e fortalecimento do que são muitas cidades paraibanas hoje. À estes se deve admiração e respeito, tanto por parte dos seus descendentes como dos que sentam em cátedras da academia de História deste estado. (1) –Estes conceitos serão discutidos posteriormente e explicados porque estão errados e são contra todas as instituições existentes, inclusive a história propriamente dita. (2) –Antônio Pereira de Almeida. “Os Oliveira Lêdo – De Teodósio de Oliveira Lêdo à Agassiz Pereira de Almeida” vol. 1. (3) – Afonso D’Estragnolle Taunay. “A Guerra dos Bárbaros”. Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria. (4) –Juciene Ricarte Apolinário e Josemir Camilo. “A cidade e seus primórdios”. Campina Grande 150 anos à Frente. Jornal da Paraíba. Fascículo 2. (5) – Eduardo D’Castro. “Notas sobre a família Cavalcanti da Paraíba e sua origem”. Publicado no blog Eduardo De Castro. www.eduardodecastro.weebly.com acessado em 28/12/2014 às 18h:36min.
5 Comments
Danielle de Oliveira Ledo
2/18/2016 02:15:46 pm
História muito interessante.
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roberto coutinho oliveira
7/28/2016 11:35:44 am
Olá Boa tarde, sou um descendente deste grande homem, minha família descende dele por parte de minha mãe, aonde com o passar dos tempos foram retirados os sobrenomes vindo a constituir a família Coutinho de castro este nobre português foi avo de minha bisavó.
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Roger
5/3/2020 05:18:42 am
Olá, também estou tentando reconstruir uma árvore genealógica, a partir de Teodósio de Oliveira Lêdo. Gostaria de compartilhar informações?
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1/5/2017 09:16:25 am
Gostaria de saber sobre a familia, descendentes do Teodosio. Tenho sobrenome igual, e procuro informações. Grato
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Sérgio Murilo Guimarães
4/26/2020 08:02:58 am
Olá. Meu filho Daniel Guimarães está construindo a árvore genealógica de nossa família Guimarães, costa, Imperiano e Batista originários dos municípios de Olivêdos,, Lagoa Seca e Pocinhos. PB. Gostaríamos de socializar fotos e histórias que enriqueçam o legado dos descendentes dos Oliveira Lêdo.
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